quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Voltar no tempo...

É difícil encontrar alguém que tenha vinte e tantos anos pra cima e que não se lembre dessa canção: Escravos de Jó, jogavam caxangá, tira, bota, deixa o Zé Pereira ficar. Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá. Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá. As cantigas de roda nos transportam para aquele tempo onde brincar era a única preocupação e responsabilidade que tínhamos. Elas têm som de saudade e nos fazem lembrar o tempo bom que passou e que, infelizmente, não volta mais.
A lista de brincadeiras que nos faziam suar a camisa é extensa. Amarelinha, queimada, esconde-esconde, pula-sela, taco, cabo de guerra, cabra cega, batata quente, pular corda, enfim... Antes o verbo brincar era conjugado realmente na sua essência. E todas as brincadeiras eram feitas em grupo. Aquela criançada toda brincando, com o sorriso no rosto, correndo e vivendo. Às vezes, a correria provocava alguns acidentes e os tombos eram inevitáveis. Assim como o merthiolate e o mercúrio.   
Recordo-me bem que até era difícil ver meninos e meninas acima do peso nas ruas e escolas, o que hoje chamamos de obesidade infantil.  Como as atividades eram sempre aceleradas, engordar não era tarefa fácil.
Só que hoje os tempos são outros e as brincadeiras também. Infelizmente a tecnologia individualizou a forma de brincar. Em tempos de internet, a maioria das crianças e adolescentes prefere os jogos eletrônicos e o computador ao invés das diversões coletivas. E a interatividade coletiva de antes, se tornou possível apenas nas redes sociais.
            Parece que toda pureza e simplicidade das brincadeiras não são mais interessantes e divertidas. Até mesmo na escola, pelo menos na maioria delas, este tipo de atividade não é promovida. Parece que virou caretice entoar uma cantiga de roda ou sugerir um cabo de guerra. Esconde esconde? Só se for atrás dos notebooks, tablets e smartphones.
            Brincar pode parecer um ato simples e sem qualquer importância. Mas é um engano! Brincando, a criança desenvolve coordenação motora, habilidades visuais e auditivas, e de quebra, ainda exercita o cérebro e o corpo. Quando a criança brinca, expõe seus sentimentos, angústias, medos e alegrias. Elas ampliam potencialidades como análise, criação, dedução e linguagem.
            Cada brincadeira ajuda num tipo de desenvolvimento. No elástico, por exemplo, a criança aprende a esperar a sua vez e a lidar com o erro. Já com as bolinhas de gude, ela precisa de atenção, estratégia para ganhar e já começa a se acostumar com as regras.
Alguns pais enchem seus filhos de atividades com horários e obrigações, como se as crianças fossem adultos em miniaturas, porém é importante lembrar que a criança deve ter o tempo para brincadeiras infantis divertidas. Elas precisam usufruir da sua fase tão importante, o brincar.
É indiscutível o papel da tecnologia no desenvolvimento dos pequenos. Mas só ela não é o suficiente. O uso abusivo de jogos eletrônicos e internet prejudicam a criança. Como tudo na vida, neste caso também é preciso existir o equilíbrio. Jogar futebol sentado no tapete da sala e de olho na televisão é legal.  Correr atrás de uma bola numa grama verde com um monte de amiguinhos também é, além de empolgante, divertido e saudável.


 Flavia Cristina Souza Cardoso empresária do ramo infantil  

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