É
difícil encontrar alguém que tenha vinte e tantos anos pra cima e que não se
lembre dessa canção: “Escravos
de Jó, jogavam caxangá, tira, bota, deixa o Zé Pereira ficar. Guerreiros com
guerreiros fazem zigue zigue zá. Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá”. As cantigas de roda nos
transportam para aquele tempo onde brincar era a única preocupação e
responsabilidade que tínhamos. Elas têm som de saudade e nos fazem lembrar o
tempo bom que passou e que, infelizmente, não volta mais.
A
lista de brincadeiras que nos faziam suar a camisa é extensa. Amarelinha,
queimada, esconde-esconde, pula-sela, taco, cabo de guerra, cabra cega, batata
quente, pular corda, enfim... Antes o verbo brincar era conjugado realmente na
sua essência. E todas as brincadeiras eram feitas em grupo. Aquela criançada
toda brincando, com o sorriso no rosto, correndo e vivendo. Às vezes, a
correria provocava alguns acidentes e os tombos eram inevitáveis. Assim como o merthiolate e o mercúrio.
Recordo-me
bem que até era difícil ver meninos e meninas acima do peso nas ruas e escolas,
o que hoje chamamos de obesidade infantil. Como as atividades eram sempre
aceleradas, engordar não era tarefa fácil.
Só
que hoje os tempos são outros e as brincadeiras também. Infelizmente a
tecnologia individualizou a forma de brincar. Em tempos de internet, a maioria
das crianças e adolescentes prefere os jogos eletrônicos e o computador ao
invés das diversões coletivas. E a interatividade coletiva de antes, se tornou
possível apenas nas redes sociais.
Parece que toda pureza e simplicidade das brincadeiras não são mais
interessantes e divertidas. Até mesmo na escola, pelo menos na maioria delas,
este tipo de atividade não é promovida. Parece que virou caretice entoar uma
cantiga de roda ou sugerir um cabo de guerra. Esconde – esconde? Só se for atrás
dos notebooks, tablets e smartphones.
Brincar pode parecer um ato simples e sem qualquer importância. Mas é um
engano! Brincando, a criança desenvolve coordenação motora, habilidades visuais
e auditivas, e de quebra, ainda exercita o cérebro e o corpo. Quando a criança
brinca, expõe seus sentimentos, angústias, medos e alegrias. Elas ampliam
potencialidades como análise, criação, dedução e linguagem.
Cada brincadeira ajuda num tipo de desenvolvimento. No elástico, por exemplo, a
criança aprende a esperar a sua vez e a lidar com o erro. Já com as bolinhas de
gude, ela precisa de atenção, estratégia para ganhar e já começa a se acostumar
com as regras.
Alguns pais enchem seus
filhos de atividades com horários e obrigações, como se as crianças fossem
adultos em miniaturas, porém é importante lembrar que a criança deve ter o
tempo para brincadeiras infantis divertidas. Elas precisam usufruir da sua fase
tão importante, o brincar.
É indiscutível o papel da
tecnologia no desenvolvimento dos pequenos. Mas só ela não é o suficiente. O
uso abusivo de jogos eletrônicos e internet prejudicam a criança. Como tudo na
vida, neste caso também é preciso existir o equilíbrio. Jogar futebol sentado
no tapete da sala e de olho na televisão é legal. Correr atrás de uma
bola numa grama verde com um monte de amiguinhos também é, além de empolgante,
divertido e saudável.
Flavia
Cristina Souza Cardoso –
empresária do ramo infantil
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